LITERATURA EM TEMPOS DE PANDEMIA IX
Sebastião
Camilo Borges
Sebastião Camilo Borges
nasceu em 16 de abril de 1953. E natural de Santo Antônio do Monte-MG. Filho de
Joaquim Camilo Borges e Maria Antônia de São José, Em 1973, após completar o
Ensino Médio, formando-se em Técnico de Contabilidade, mudou-se para Belo
Horizonte. Frequentou o curso de Psicologia até o quinto período. Em 1977
descobriu a arte do Teatro, atividade que exerceu profissionalmente, com grande
dedicação, por quinze anos. Trabalhou como ator, diretor e escritor de vários
espetáculos teatrais. Foi membro da Associação Profissional de Artistas e
Técnicos em Espetáculos de Diversão de Minas Gerais, que deu origem ao atual
Sindicato dos Artistas. Na década de 80 participou do Movimento Alternativo de
Literatura em Belo Horizonte. Em 1992, casou-se com Ana Maria e mudou-se para
Lagoa da Prata onde nasceram seus filhos- Gabriel e Gabriela. Graduado em
Pedagogia. Atualmente, participa esporadicamente de encenações teatrais e
publica textos avulsos em jornais locais e coletâneas da Acadelp. Autor do livro infantil “Meu
pezinho de Grama” . Conta também com textos teatrais e contos que pretende
reunir num outro livro para posterior publicação.
Cadeira nº 29 - Patrono:
Floriano Geraldo Sampaio
TENHO MEDO
O momento é tão
tenso que não sei o que escrever. Ouço e vejo tanta loucura acontecendo. Muitas
das vezes fico indignado e assustado com o absurdo em que está se tornando a
sociedade brasileira. Hoje um ministro do STF disse que é “assustador ver
manifestações pela volta do regime militar”. Um médico ao sair de um hospital
onde estava ajudando as pessoas a viverem e se dirigir a outro hospital para
fazer a mesma coisa dá de cara com uma manifestação pela morte. É como se uma
grande tempestade inesperada nos alcançasse no meio do caminho. Desprevenidos
nos sentimos atordoados e no meio da escuridão não nos reconhecemos mais como
semelhantes.
Manifestantes
de verde e amarelo espancando um casal simplesmente porque eles vestiam blusas
vermelhas. Que loucura é esta? Porque tamanho ódio? Porque esta negação da
realidade dos fatos? Vida e morte são fatos inegáveis da filosofia. Diante de
situações extremas escolhemos viver ou morrer. Podemos estar como náufragos em
mar aberto mas se escolhemos viver vamos lutar até o fim. Mas se não lutamos a
morte é certa.
Eu tenho medo,
tenho vergonha, receio por meus familiares, por meus filhos e amigos. Tudo está
muito confuso.
Os
profissionais de saúde sempre estiveram onde estão, trabalhando para proteger e
salvar vidas, no entanto nunca receberam tantas homenagens como agora. Chegar
ao ponto de bombeiros fazerem um show do alto de um grande guindaste para
homenagear os médicos e enfermeiros de um hospital. Não acredito na boa fé dos
grandes empresários nesta onda de doação. Estão, na verdade, visando mais
lucros lá na frente e mantendo a boa imagem da empresa diante da sociedade.
Sempre tiveram condições de ajudar, mas sempre destinaram migalhas para
hospitais ou entidades e agora ficam apregoando de bons samaritanos. Os hospitais
públicos sempre sobreviveram em péssimas condições. Só quem já dependeu de
algum sabe a realidade. Se quero realmente ajudar, faço isto sem alarde e sem
publicidade. E não somente em momentos de emergência. Apenas faço o melhor e
fico feliz em poder fazê-lo.
Se a sociedade
vai ser melhor ou pior pós pandemia, não sei. Tem centenas de profetas dizendo
e afirmando mil coisas. Com textos sedosos e românticos circulando nas redes
sociais, mas não acredito em uma transformação tão rápida do ser humano. Porque
o xis da questão está aí: o ser humano. Onde está o seu tesouro aí estará o seu
coração, disse Jesus. Onde está o tesouro desta humanidade egoísta,
discriminatória, hipócrita e narcisista?
Hoje me veio à
mente uma cena dantesca e foi tomando forma deixando-me sem chão naquele
momento. Eu “vi” um cidadão em um momento de desespero invadindo um hospital
tentando roubar o respirador de um paciente. Houve grande confusão e o cidadão
foi abatido.
Sinceramente
gostaria de estar escrevendo uma bela mensagem, talvez um poema positivista,
mas não é assim que me sinto neste momento. Tenho vivido a quarentena sem
dificuldades. Por natureza já sou uma pessoa mais recolhida. Tenho aproveitado
para ler mais, fazer pequenas tarefas domésticas e cuidar da minha casa, algo
que normalmente, não tenho muito tempo disponível.
Tenho fé na
ciência e em seu poder de conhecimento para descobrir a cura para este mal
chamado corona vírus. Tenho fé em Deus porque Ele nunca nos abandona. Seu amor
é inesgotável. Mas o coração precisa estar aberto para a graça. Entretanto, o
egoísmo humano é a arma mais mortífera que existe na face da terra.
Sebastião
Camilo Borges.
Realismo puro e cru no seu texto. A esperança teima em resistir, precisamos acreditar nisso para sobreviver, mas dizer que é fácil seria enganar a nós mesmos. Parabéns pelo texto, Sebastião! Abraço, Marina.
ResponderExcluirTambém sinto essas ondas de revolta, Sebastião, aliás há tempos me sinto assim... Desde os tempos em que semearam o ódio no cenário político, me abstive de escrever, porque sei que minha descrença como ser humano e a minha revolta com o poder atual falariam mais alto. E agora, com a quarentena tenho escrito para mim mesma. Falo da dor, da solidão, da incerteza pelo futuro. Mas guardo no fundo das minhas gavetas. Mas de vez em quando é bom desabafar como você fez. Senão a carga vai pesando demais. Abraços.
ResponderExcluirE nunca tinha percebido que você nasceu um dia antes de mim. Nascemos no mesmo ano.
Parabéns de novo.
Tião irmão querido você fala com a alma e nos deixa tranquila temos fé e acredito em Deus Ele está conosco
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